Dia a dia cresce em mim e em tantos fieis que partilham comigo a perplexidade com a enormidade de escândalos que vêm a lume perpetrados por membros da hierarquia eclesiástica em vários países. O sofrimento e até alguma angústia cresce nos que amam a Igreja e se dão por ela. Compreendemos melhor agora a gravidade do pecado e quanto o nosso pecado não é um mal só para nós, mas é profundamente social e comunitário. Compreendemos porque é que não chega pedir perdão dos nossos pecados só a Deus, mas que deve passar pela mediação da Igreja, pois não ferimos só o coração de Deus mas também o da comunidade a quem prejudicámos. Deus nunca é o autor do mal mas sempre soube tirar o bem do mal. E se estes escândalos levassem agora a Igreja a uma radical vivência da santidade? E se esta humilhação e sofrimento que cai sobre toda a Igreja, servissem para uma purificação interior de todos os cristãos e de modo especial dos ministros ordenados? Eu sei que agora há muito aproveitamento e empolamento da questão, que muitos querem ganhar dinheiro com tudo isto e até estalam os dedos de contentes por isto estar a acontecer dentro da igreja, pois não lhe faltam inimigos. Mas o facto é que bastaria que fosse um caso para já ser grave, e são casos demasiados. Dá-nos esperança e confiança as palavras de Jesus a Pedro. «As forças do inferno lutarão conta a igreja mas não prevalecerão contra ela» No entanto, as forças do inferno também podem vir de dentro da igreja que ainda é pior. Parece-me que fomos levados para o exílio da Babilónia onde “nos sentámos a chorar com saudades de Sião”.
Resta-nos pedir a Deus que se lembre da sua esposa amada que purificou com o seu sangue e derrame sobre ela de novo a abundância de um novo Pentecostes e de um novo ardor de santidade. . “Ó Deus fazei brilhar a vossa face sobre nós, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.”
Pe Jorge Santos