Homilia na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora (Pe Jorge)

Homilia na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora (Pe Jorge)

Maria o que disseste ao longo da tua vida?

O que disseste na Anunciação do Anjo?

Fazes parte da nossa condição, conheces os limites das nossas possibilidades humanas. Deus pede-te o inacreditável e faz-te descobrir que nada é impossível a Deus. E tu respondes: “Eis-me aqui. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra.

E o que disseste na tua visita a Isabel?

Tu és Filha de Israel. Do teu coração brotou a ação de graças que durante séculos foi cantada nas Escrituras e, em cada sábado, escutavas e meditavas no teu coração. «A minha alma exulta no Senhor», dizia o cântico de Ana que tantas vezes escutaste e cantaste.

E em Belém, Maria, que disseste tu?

Não encontraste lugar para Ele em nenhuma hospedaria e tiveste que O dar à luz numa pobre manjedoura. Deixaste o céu cantar cânticos de júbilo, a glória nos céus e a paz na terra aos homens, tu que és da nossa pobre condição. Que felicidade a tua, no meio da pobreza, mostrar o teu Filho aos pastores no presépio! Alegria da vida nascente! A tua alma exulta de alegria em Deus…

E que disseste tu, Maria, aos doze anos quando entravas na adolescência?

Tu deste-te. Entregaste-te na confiança. Já não és a rapariguita do dia da Anunciação. Agora és mãe nesta família. Porquê então falar? Guardavas tudo no teu coração. É um segredo de amor que se teceu entre ti e Ele. O que se partilha com Deus é uma graça indizível.

E quando Ele chegou aos 20 anos da Sua juventude, que disseste tu?

Ele ia e vinha com José, na azáfama da carpintaria, que dizia algumas piadas com os colegas da mesma idade. Ele te lembrara alguns anos atrás «que devia ocupar-se das coisas do Seu Pai». Mas tu sabias que todo o Seu ser, tecido do teu, vivia em unidade com Deus. Para quê substituir-te a Ele que é a Palavra viva que Deus nos deu? E continuavas a guardar tudo na tua alma confiante.

E nas bodas de Caná, Maria, que disseste tu?

Mulher atenta às alegrias que poderiam transformar-se em preocupação e aflição, conduzistes o teu Filho aos serventes para que lhes fizesse o dom deste primeiro milagre. Como aos pastores em Belém, também agora O apresentas aos homens dizendo-lhes: «Fazei tudo o que Ele vos disser».

Conta-nos, Maria, que disseste tu, naquele dia em Cafarnaúm?

Os teus parentes levaram-te com eles ao Seu encontro, pois diziam «que estava fora de si». Mas tu sabias que Ele devia ocupar-se das coisas do Pai. Por isso, nada disseste. Ficaste discreta no silêncio do apagamento e ouviste-O perguntar: «Quem é minha mãe e meus irmãos?» E Ele próprio respondeu: «Aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus». Confirmou-te na tua entrega. Tu és realmente a Sua mãe pois fazes a vontade do Pai na perfeição, como Ele a irá fazer no Gólgota.

E no Calvário, Maria, diz-nos o que ouviste.

Gritos hostis de ódio e tão pouco amor. É a espada de dores predita por Simeão no Templo, há já trinta anos, e que agora te atravessa a alma e te fere. Sem dúvida que te lembraste daquele dia da Anunciação, em que disseste: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». E ouviste a tua nova missão, o pedido de uma nova entrega naquela voz doce e frágil que se extinguia na cruz: «Mulher eis aí o teu Filho».

E que disseste tu, Maria, na tua dormição, quando fechavas os olhos para esta vida?

Nada, senão dizer de novo aos filhos que te foram confiados o que sempre conservaste no teu coração e que eles também deveriam conservar e redizer por sua vez: Tu disseste-lhes o teu Magnificat a Deus para que o pudessem cantar contigo de geração em geração.

Maria que ouviste tu ao chegar à glória do céu?

A humilde serva do Senhor é recebida em festa no meio de coros de anjos que se inclinam diante da sua Rainha: Como é bela e formosa a Filha de Jerusalém que se levanta como a aurora e resplandece como sol nascente. És conduzida junto do ancião venerável e daquele que esteve morto, mas agora vive pelos séculos dos séculos. O Rei do Universo estende-te o cetro real sorrindo para ti que és Sua mãe: Vem, Nova Eva, Virgem Filha de Sião, Mulher Nova, recebe o Reino que te está destinado e senta-te a meu lado como Rainha. E no céu ouviu-se um clamor de júbilo e alegria. E cantou-se de novo o Magnificat a Deus que ecoa pelos séculos dos séculos.

Pe Jorge Santos

 

 

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