«Cantai ao Senhor um cântico novo: o Senhor fez maravilhas.»
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«EVANGELHO (Mt 24, 37-44)
Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».»
MEDITAÇÃO
Como sois formosa, ó Maria, Imaculada, Mãe do Senhor
Já todos fizemos um dia a experiência de sermos atraídos com o nosso olhar para algo que era muito belo; uma pintura, uma bela paisagem verdejante, uma escultura ou outra coisa bela. Ficámos com aquela beleza na memória, mas, algum tempo mais tarde, voltámos a passar e deparámo-nos, incrédulos, com a pintura destruída, ou com a paisagem verdejante ardida e onde agora só se vêm cinzas. Antes de ex-perimentarmos um sentimento compreen-sível de cólera, apodera-se de nós uma grande tristeza, uma incom-preensão profunda. Porque é que aquilo que era tão belo, inocente, pôde ser destruído? Este sentimento pode dar-nos uma pequeníssi-ma e muito longínqua ideia dos sentimentos que habitaram o cora-ção de Deus, nosso pai, depois do primeiro pecado original de Adão e Eva. É toda a criação, gerada na inocência, na beleza e na graça, que foi manchada, destruída pelo pecado. “Adão, onde estás, o que fizeste e porquê?” Cada vez que o ser humano se desvia de Deus, seu verdadeiro bem, coloca um abismo entre ele e o único que o pode salvar. Mas Deus não se resigna com a morte do homem e com a sua infelicidade. Recria um plano salvador para nos resgatar da situação perdida. Em Conselho divino, a Trindade decide a salvação do homem na plenitude dos tempos. Para isso, o Verbo descerá dos céus e assumirá a nossa condição humana. E o Espírito Santo terá a missão de preparar uma Mulher para acolher o Verbo e enchê-la de graça desde a sua conceção. O texto do Génesis já faz referência a esta mulher nova que esmagará a cabeça da serpente. Como diz uma antífona deste dia: “Por Eva foi fechada aos homens a porta do céu e a todos foi de novo aberta por Maria.”
“Tendo entrado o anjo onde Maria estava disse-lhe: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».” Celebrando a Imaculada Conceição da Virgem Maria, celebramos a vitória do amor de Deus. A obra da salvação humana, desejada por Deus desde sempre, realiza-se atra-vés de Jesus, com a colaboração estreita duma pessoa da nossa hu-manidade chamada Maria. Deus tomou a iniciativa. É Ele que, de modo inesperado, irrompe em casa da jovem donzela de Nazaré, por Ele escolhida, através do anjo Gabriel. Maria, a primeira das criatu-ras a ser salva por Jesus, abre um Caminho novo que conduz à porta do Reino. Desde a sua conceição Imaculada, Maria é inteiramente objeto da misericórdia divina, é cheia de graça. Deus preparou para si uma morada digna d’Ele: “Avé, cheia de graça”. Maria, por seu lado, fica espantada diante desta inesperada visita e anúncio. Ela pressente um mistério que a ultrapassa completamente, e por isso perturba-se interiormente. É a perturbação que cada um de nós sente quando nos encontramos diante do mistério divino. Esta per-turbação é temor e, ao mesmo tempo, fascínio. Fascínio diante da-quele que pode cumular o nosso desejo profundo, e temor nascido do respeito reverente diante daquele que nos ultrapassa infinita-mente. Maria pergunta ao anjo: «Como será isso se eu não conheço homem?» E o anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra».
“O Espírito Santo virá sobre ti”. O anjo revela a Maria o mistério es-condido em Deus, o seu desígnio de amor. Cheia de graça, maravi-lhada pela realização das promessas feitas ao seu povo, Maria per-manece livre. Esta liberdade do Amor divino não cessa de criar um mundo novo naqueles que se oferecem a Ele. A Virgem Maria, em nome de todos nós, dá o seu «sim»: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» Deus estava em suspenso à espera da resposta de Maria. Logo que ela o disse, um mundo novo come-çou: “O Verbo fez-se carne no seio da virgem Maria e veio habitar entre nós.” Contemplando o que aconteceu à Virgem Maria, nós contemplamos o que Jesus realiza na sua Igreja. Este mistério que é agora revelado, será celebrado no Natal. Bendita seja a Virgem Ma-ria!