O evangelho de deste domingo (Mt 4, 12-23) trata de duas questões diferentes e pode dividir-se em duas partes. A primeira (vers 12 a 17) narra o momento em que João Baptista é encarcerado e Jesus parte para a Galileia. O texto usa o verbo paradídomi (παραδίδωμι), que nos recorda a paixão (entregar-se) e que manifesta o paralelismo entre Jesus e João na pregação e no destino final.
Jesus só volta para a Galileia porque este é o plano divino para Ele. Mateus interpreta os atos da vida de Jesus como o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, e nesta ocasião, apresenta o início da atividade de Jesus na Galileia para que se cumpram as palavras do profeta Isaías (cf. Is 8, 23-9, 1) que lemos na primeira leitura deste Domingo. Jesus manifesta-Se na «Galileia dos gentios» (v. 15), embora o evangelista não considere este território como terra de gentios. Não podemos esquecer que Mateus deixa muito claro na sua narração que Jesus é o Messias de Israel, que atuou nas sinagogas de Israel e que proibiu os discípulos de ir além de Israel (cf. Mt 10, 5). Portanto, a expressão do v. 15 tem um carácter fictício que antecipa o que posteriormente desencadeará a história da salvação.
Jesus instala-Se em Cafarnaum e inicia a proclamação do Reino de Deus. Assume a pregação de João Baptista ao falar da conversão como fazia o seu precursor. Talvez surpreenda que o evangelista não fale de crer e pregar o Evangelho.
A segunda parte do texto (4, 18-23) é a vocação dos discípulos junto do Lago da Galileia. Mateus descreve, da mesma maneira que o evangelista Marcos, o chamamento aos dois pares de irmãos. Ao contrário de Marcos, chama a Simão de Pedro desde o princípio. Jesus convida-os a deixar o trabalho e a tornarem-se pescadores de homens. Todos abandonam imediatamente o que fazem e seguem Jesus.
O chamamento de Jesus aos pescadores do lago da Galileia é uma manifestação concreta do seu chamamento à conversão. No contexto histórico da época, é interessante assinalar que seja o Mestre quem escolha os seus discípulos e não ao contrário, como era costume entre os mestres da Lei. Para os discípulos começa um longo caminho de aprendizagem dura e custosa antes de poderem converter-se em testemunhas do Mestre.
Texto adaptado de Mar Pérez, in Misa Dominical