“Disse-Lhe que sim. Para fazer como Nosso Senhor.” (Stª Jacinta)
Reflectiremos um pouco sobre a pequenita Santa Jacinta, no centenário da sua morte, à luz deste 4º mistério gozoso. Iniciamos com estas palavras da Jacinta, síntese, creio, de toda a sua vida.
Neste texto, contemplamos algumas características daqueles que “viram a salvação oferecida a todos os povos e falavam dela a toda a gente”, Simeão e Ana (cf.v.30;38). Agora, evidenciamos algumas características da Jacinta, bem semelhantes a estes anciãos. Através dos colóquios com a Virgem Maria, e naquela luz tão grande que Ela lhes meteu no peito, a Jacinta viu o Senhor, ou seja, este Menino que Maria e José levaram ao Templo e que é a “luz das nações” e “a salvação oferecida a todos” (v.30-32). A partir desse momento, em 13 de maio, ela comunica-O a toda a gente, pois não pode guardar, conter em si tanta alegria.
A Jacinta foi sempre um Sim, “para fazer como Nosso Senhor”. A Jacinta é a menina que, à semelhança de Nossa Senhora e de Jesus, diz sempre que SIM ao plano salvífico de Deus sobre a humanidade sofredora. Há um episódio muito interessante na sua vida que nos confirma esta semelhança com Jesus, o Bom Pastor que Se oferece e dá a vida pela “ovelha perdida” e a carrega ao colo, nos Seus braços com carinho. Passo a transcrever o que a Lúcia nos conta acerca da Jacinta numa cena semelhante: “A Jacinta gostava também muito de agarrar os cordeirinhos brancos, sentar-se com eles no colo, abraçá-los, beijá-los e, à noite trazê-los ao colo para casa (…). Um dia, ao voltar para casa, meteu-se no meio do rebanho. Jacinta – perguntei-lhe – para que vais aí, no meio das ovelhas? – Para fazer como Nosso Senhor” (MIL, 44). Certamente que estamos bem recordados que o Papa Francisco disse algo parecido aos sacerdotes: pediu-lhes para eles “serem pastores com o «cheiro das ovelhas» – isto vo-lo peço: sede pastores com o «cheiro das ovelhas», que se sinta este –, serem pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens” (Papa Francisco, 23.3.2013).
Quem representa, então, estes “cordeirinhos” que a Jacinta cuidava com carinho, senão “os pobres pecadores” por quem ela, à semelhança de Jesus, se ofereceu, deu a vida, se esgotou sendo “insaciável na prática do sacrifício” (MIL,47)?!
Quanta generosidade nesta menina! Quanta solidariedade para com os “pobres pecadores”! Ela vê a salvação que Deus preparou e assume a responsabilidade da salvação do próximo, usando tudo o que está ao seu alcance. Por um lado evita o pecado, por outro, sacrifica-se – na comida, na bebida, mesmo quando está muito calor – por outro, acolhe com paciência os interrogatórios, os insultos, as inúmeras incompreensões, o abandono, enfim, as “espadas de dor que traspassavam a sua alma” (v.35) e tudo por amor a Jesus e pelos pecadores. Comia as bolotas mais amargas ou, já doente, ia à Missa nos dias de semana, pelos pecadores que não iam ao Domingo, sempre os seus amiguitos, “os pecadores”. Desta forma, ela foi causa de conversão para outras pessoas que não acreditavam nas aparições e passaram a acreditar (cf. MIL, 56). A exemplo de Jesus, ela foi motivo de “ressurgimento de muitos” dos débeis. “A Jacinta vê-se e sente-se protagonista de uma história de amor” (Eloy Bueno, MF,188).
Poder-se-á dizer que a Jacinta, como Jesus Menino, cresceu na virtude, em graça, sabedoria e santidade (cf. v. 40) com a ajuda de seus companheiros. Estes lembravam-lhe como deveria oferecer e, mais ainda, como se deveria oferecer, deixando de ser o centro das atenções, para dar lugar ao Outro e aos outros – os pecadores -, e ela aceitou, colaborando com as ocasiões e sendo dócil às moções do Espírito Santo que também estava nela (cf. v. 25b-27).
Tal como a Virgem Maria, aqui neste mistério vai ao Templo para ser purificada e para oferecer Jesus, também a Jacinta aceita o tempo de purificação na terra, das suas imperfeições, para se oferecer totalmente a Deus e em benefício dos que estão longe da Graça de Deus. E faz este intercâmbio: leva esperança, consolação, Deus às pessoas e leva os problemas, dificuldades e intenções das pessoas a Deus na sua oração confiante, naqueles momentos em que tanto gostava de estar a sós para falar com Jesus Escondido (cf. MIL, 55).
Cada um de nós tem a sua “quota parte” na Obra da salvação. A Jacinta, à semelhança de Jesus, teve o peito aberto, por uma ferida, mas a espada que mais a trespassou era feita de luz. Essa dilatou-lhe o coração, de tal forma que ela dizia que parecia que tinha um lume no peito, que, apesar de não queimar, fazia-a arder de zelo pela salvação da humanidade que sofre por não se saber amada.
Seguindo o exemplo da Virgem Maria e de S. José neste mistério, depois de termos meditado sobre a Jacinta à luz deste texto, regressemos “à nossa cidade” (v.39), ou seja, ao dia a dia, à rotina, com nova consciência do nosso lugar no plano de salvação, oferecendo mais o que custa e estando dispostos a dizer-Lhe “SIM”. “Para fazer como Nosso Senhor” e Nossa Senhora.
Irmã Céu Coelho