Folha Paroquial nº 121 *Ano III* 19.04.2020 — DOMINGO da MISERICÓRDIA

Folha Paroquial nº 121 *Ano III* 19.04.2020 — DOMINGO da MISERICÓRDIA

Aclamai o Senhor, porque Ele é bom: o seu amor é para sempre.

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“EVANGELHO ( Jo 20, 19-31 )
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Mui-tos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.”

REFLEXÃO
“As narrativas das aparições de Jesus aos discípulos são de uma beleza encantadora. Os evangelistas sabem que estão a falar de algo que os ultrapassa e que é muito difícil transcrever em palavras. Podemos ter a impressão de que os discípulos nem precisaram de fazer um ato de fé em Jesus ressuscitado, pois o viram factualmente e o tocaram. Mas os evangelhos não permitem esta interpretação. Eles afirmam que os discípulos levaram algum tempo a processar e a entender que Aquele que lhes aparecia era o mesmo com quem tinham vivido antes da sua morte. Jesus usa sinais para, através deles, os levar a intuírem o mistério da sua presença. Na caminhada dos discípulos de Emaús usa o sinal do partir do pão: “Sentou-se à mesa, pegou no pão, deu graças, partiu-o e deu-o. Nesse momento, reconheceram-no. E Ele desapareceu.” Noutra vez, andavam a pescar e não encontraram nada, Ele aparece-lhes, mas eles não O reconhecem. Manda-os atirar as redes para o outro lado e eles aceitam o conselho de um desconhecido. Quando a rede vem carregada de peixes, a ponto de se romper, João exclama: «É o Senhor.» A pesca milagrosa foi o sinal que desencadeou a fé. Provavelmente reenviou-os para a pesca milagrosa do início, na altura em que foram chamados por Ele junto ao lago de Tiberíades. Aquela pesca abundante lembra-lhes outra. E chega para abrirem os olhos… da fé. No texto de hoje, como em outros textos, temos outro sinal: «Mostrou-lhes as mãos e o lado», sinais da sua entrega por nós. Interessante o facto de Tomé não estar presente quando Ele mostra aos outros discípulos esses sinais, mas depois de se juntar a eles e estes lhe dizerem: «Vimos o Senhor», ele pede como sinal exatamente esse: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». E foi esse o sinal que novamente Jesus apresentou a Tomé. Para que precisava Tomé destes sinais? Não lhe chegava vê-lo para O reconhecer? Às vezes imagina-mos o ressuscitado com um corpo mortal, como o que ele tinha antes da sua morte, mas agora Ele vive noutra dimensão, na dimensão do divino, do celeste, já não é deste mundo; o seu corpo venceu a morte, é um Corpo glorioso. Os evangelistas nunca utilizam o verbo “ver … Jesus ressuscita-do” na forma ativa. A tradução não devia ser «Vimos Jesus» mas Jesus foi visto ou deixou-se ver… é o célebre verbo grego ôfthê. A ação está do lado de Deus, que se deixa ver, e não dos apóstolos, que são sempre surpreendidos pelas aparições.
Jesus usou sinais que ajudassem os discípulos a lerem a sua presença viva e ressuscitada. Tenho meditado, nesta Páscoa, quais são os sinais que nós, cristãos, usamos para que os homens e mulheres de hoje possam ser tocados pela fé. Jesus indicou-nos alguns; O Mandamento Novo: «É por este sinal que todos reconhecerão que sois meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros.» Um outro, é o sinal do serviço humilde, de lavar os pés aos homens chagados pela lança da doença e pelos pregos da pobreza e da dor da solidão. A fração do pão é um grande sinal, pois o pão partido é sinal sacramental de Cristo entregue por nós, de Cristo esmagado pela dor, mas agora vencedor. Hoje, o mundo precisa de sinais. O papa Francisco ensina-nos isso a toda a hora. A sua linguagem é muito mais fecunda pelos sinais do que pelas palavras. Ficará para sempre na nossa memória aquela praça de S. Pedro vazia e solitária e o Papa, sozinho, subindo a praça, para se agarrar à Cruz do Senhor. Sem palavras. Os seus abraços de ternura, as suas idas inesperadas a este ou àquele lugar onde se sofre, faz com que, mesmo se não guardamos as palavras que disse, recordemos para sempre os gestos que praticou. Mas a grandeza do sinal está na sua autenticidade, na sua verdade e coerência. Sinais só para show off não funcionam.
A pergunta que deixo hoje é: “Quais os sinais que dou, com a minha vida, de que sou discípulo de Jesus? E a minha família? Dá sinais de que é família cristã para além das palavras? E a nossa comunidade eclesial? Que sinais apresentamos ao mundo de que somos discípulos? Podíamos ajudar-nos uns aos outros a sermos mais significativos, isto é, a descobrir-mos comunitariamente sinais que falassem, sem palavras, ou com poucas palavras, mas ajudassem as pessoas a intuírem o mistério da presença de Jesus vivo no meio de nós. A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos apresenta-nos vá-rios sinais: O mandamento novo que viviam, a disponibilidade para dar e servir, a alegria com que evangelizavam e se socorriam uns aos outros, a devoção com que oravam e celebravam a Eucaristia era profundamente atrativo para os de fora. Os sinais funcionavam. Eram elo-quentes. E. como consequência desse viver novo, o texto termina dizendo: «E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam salvar-se»”

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