Folha Paroquial nº 145 *Ano III* 08.11.2020 — DOMINGO XXXII DO TEMPO COMUM

Folha Paroquial nº 145 *Ano III* 08.11.2020 — DOMINGO XXXII DO TEMPO COMUM

A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.

A folha pode ser descarregada aqui.

“EVANGELHO (Mt 25, 1-13)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a dez virgens, que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora».”

MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS

DO ENTUSIASMO DO INÍCIO À PERSEVERANÇA

1.Conheci alguém, há mais de 30 anos atrás, que fez uma experiência de Deus muito sentida, no Renovamento Carismático. Muita coisa mudou na sua vida, e algumas nada fáceis de mudar, por exigirem muita coragem e desprendimento. Foi uma verdadeira conversão que se manifestou não tanto pelas emoções, que também foram grandes, mas sobretudo pelo estilo de vida que mudou admiravelmente em conformidade com a vontade d’Aquele que Ele tinha encontrado e lhe tinha dado tanta alegria. Pôs muita coisa em ordem na sua vida: no plano financeiro, moral e relacional. Deu um bom testemunho a todos os que o conheciam, pois percebiam que uma mudança autêntica se tinha produzido nele. Porém, passados uns anos, vim a saber que já nem à missa ia e que, embora não tivesse voltado ao estilo de vida anterior, tinha perdido todo o entusiasmo, como se nada tivesse acontecido na sua vida. Encontrando-o um dia, em Lisboa, fomos tomar um café e conversámos sobre isso. Disse-me tristemente que agora já não praticava, que tinha deixado de rezar, mas sentia saudades da alegria e do entusiasmo daqueles tempos em que parecia ter conhecido a Deus. Parecia? – perguntei eu. – Sim, comecei a duvidar de tudo -disse ele – Quando aconteceu a minha conversão tudo era fácil. Deus parecia que vivia em mim e me dava força e coragem. Tudo valia a pena por causa D’Ele. Vivia numa grande alegria e sentia-me capaz de mudar este mundo e o outro, pela certeza de que Ele estava comigo. Mas pouco a pouco, parece que fiquei sozinho. Deixei de o sentir presente na minha vida. Comecei a pôr em causa escolhas que tinha feito por causa da fé e mesmo a duvidar se a minha experiência tinha sido autêntica. As dúvidas vieram umas atrás das outras e comecei a arrefecer. Deixei de ir ao grupo de oração, deixei de rezar e, depois, de ir à missa. Enquanto o ouvia partilhar tristemente a sua história, pensei quanto lhe faltou alguém que o ajudasse a fazer a mudança dos primeiros tempos para o tempo seguinte, o da perseverança na fé.

2.Esta história real é uma introdução para comentar o evangelho de hoje e para pedirmos a sabedoria de Deus para nos guiarmos bem na vida.

A primeira geração cristã viveu convencida de que Jesus ressuscitado voltaria de novo e brevemente. Nessa altura estavam todos com as lâmpadas acesas. Mas isso não aconteceu, Jesus tardava em chegar. Pouco a pouco, os seguidores de Jesus tiveram que se preparar para uma longa espera. E alguns começaram a dormitar e deixaram apagar as suas candeias. Mas como manter vivo o entusiasmo e o espírito dos inícios? Como alimentar a fé sem deixar que se apague? É por isso que os evangelistas não se esqueceram de sublinhar as palavras de Jesus: “É pela vossa perseverança que salvareis as vossas almas.” Ou, segundo outro evangelista, “quem perseverar até ao fim será salvo.”

Estas questões colocam-se sempre na Igreja quando um carismático fundador de um movimento ou de uma ordem religiosa morre. Enquanto ele está vivo, o Movimento ou a Ordem religiosa vive do carisma do fundador, e quase nem precisa de estatutos. É o tempo do crescimento e do entusiasmo. Mas como manter aquela chama viva, aquele carisma, agora que o fundador já não está presente com a sua autoridade? É sempre um tempo difícil, o desta mudança. Mas é pela perseverança dos seus seguidores que o carisma vai dando o seu fruto na Igreja e no mundo. O Evangelho de hoje tem a ver com esta perseverança até ao fim, e de estar vigilante para não nos deixarmos adormecer e apagar a nossa chama.

3. O que pode querer dizer o azeite que as sensatas levam consigo? Jesus disse um dia: «Eu vim trazer o fogo à terra e quanto desejo que ele seja ateado!» Este fogo nasce do contacto vivo com Ele. Quanto mais nos distanciamos da sua pessoa, mais o azeite vai faltando e a chama se vai apagando.

Pretender conservar uma fé gasta sem a reavivar com o fogo da amizade e da proximidade com Jesus, é ter uma fé cristalizada do passado que não transforma a vida e não serve para nada. Passar de uma fé entusiasmada dos inícios para uma fé perseverante no amor sem se deixar cristalizar, é trazer sempre consigo o azeite que renova continuamente a chama. O azeite pode ser a Eucaristia dominical vivida, não como um preceito que temos de cumprir, mas como um banquete nupcial para o qual nos preparamos. Pode ser a Palavra de Deus escutada e meditada com amor, pois quando o fazemos abrimo-nos à presença d’Aquele que nos fala. É a oração quotidiana, e é todo o serviço que fazemos na paróquia ou noutros lados, por causa d’Ele. Permitam-me que faça uma interpretação possível desta parábola: As insensatas são aquelas que tendo tido já as candeias bem acesas com o fogo do amor de Deus se descuidaram, não foram perseverantes e, pouco a pouco, esfriaram a sua fé e o seu entusiasmo. O que precisariam? De um acompanhamento fraterno para se darem conta, pelo confronto com o testemunho dos outros, que precisam de mais azeite. Por isso é tão importante que uma pessoa que faz uma experiência de fé e de conversão não fique sozinha, mas faça parte de um pequeno grupo onde se reza e se partilha a fé. As sensatas foi isso que fizeram. Levaram consigo o azeite, quer dizer, souberam agarrar nos meios que lhes permitiu manter viva a chama da fé para que não se apagasse nem cristalizasse.

Muitas vezes temos muito trabalho em preparar adultos para o batismo, jovens para o crisma, pessoas para fazerem o percurso Alpha, mas depois falta-nos o mesmo cuidado no acompanhamento dessas pessoas até à sua plena integração na comunidade cristã ou nalgum grupo eclesial.

Estamos na semana dos Seminários. Rezemos pela perseverança dos sacerdotes para que mantenham sempre viva a chama da amizade com Jesus e não se deixem cristalizar num modo de vida sem chama e sem ardor.”

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