Estiveram alguns irmãos das nossas comunidades paroquiais a seguir online as Jornadas e pedimos a alguns deles que partilhassem por escrito como as viveram.
Pedro Matos – Fratelli Tutti
Fratelli Tutti é um alerta para que despertemos do sono que a todos embalou e adormeceu, tornando os nossos corações insensíveis e indiferentes.
Nesta encíclica o Papa, espelhando bem os sonhos que o norteiam, pede-nos empenho na defesa do direito dos mais pobres, no respeito pela riqueza e diversidade cultural de todos os povos, no cuidado por toda a criação e no acolhimento de novos, belos e únicos rostos que chegam até nós.
Desafiados a “trocar a voz, trocar o passo e a trocar a dança”, havemos de reconhecer a urgência de uma completa transformação pastoral, cultural, ecológica e sinodal. Não podemos ficar prisioneiros, obcecados por regras, usos e costumes passados, como se a Igreja fosse um Museu, negligenciando o coração daquele Pai, “cujas entranhas se contorcem” pelos filhos e filhas que todos os dias O abandonam e pelos filhos e filhas que ficam … sem ficar.
Simples e pobres peregrinos somos chamados a caminhar juntos, atentos á sorte de milhões de irmãos que são votados ao desprezo e abandono absolutos. Escutaremos a Deus, se escutarmos o que Ele escuta: “O clamor desses irmãos, caídos e abandonados á sua sorte”.
Permitamos que o Espírito de fraternidade, gratidão e gratuidade, inunde e envolva todo o nosso ser…em Abraço.
Ana Ferreira – o valor do Amor
Tive a oportunidade, no passado dia dezanove de Janeiro, de poder participar nas Jornadas de Formação Permanente da diocese de Coimbra. Já não é a primeira vez que aproveito esta oportunidade, pois é sempre um tempo privilegiado para parar, ouvir e poder reacertar de alguma forma o nosso caminho com Cristo e com todos.
O tema destas Jornadas foi “Vós sois todos irmãos (Mt 23, 8) – uma leitura da Fratelli Tutti”, a fresquinha Carta Encíclica do Papa Francisco sobre a fraternidade e a amizade social. Já há algum tempo que ia lendo, um pouco e na diagonal esta Carta e por isso sentia o desejo de mergulhar nos seus ensinamentos, daí o meu contentamento em poder fazê-lo.
Detenho-me, por breves momentos, na parte da manhã, em que fomos brindados com uma clara exposição do Dr. Juan Ambrósio acerca da Fraternidade como lugar teológico. Aqui pude refletir sobre o que é isso de lugar teológico, lugar onde me encontro com Deus e onde a Fraternidade é um verdadeiro espaço de experiência cristã. É interessante como o Papa nos convida a pensar o nosso viver, olhando a fraternidade, valor tão importante e que se reveste de uma grandeza ainda maior no contexto em que vivemos.
O papa Francisco relembra-nos o valor indestrutível do Amor. “Entre as religiões, é possível um caminho de paz. O ponto de partida deve ser o olhar de Deus. Porque «Deus não olha com os olhos, Deus olha com o coração. E o amor de Deus é o mesmo para cada pessoa, seja qual for a religião. E se é um ateu, é o mesmo amor.” (n.º 281, Fratelli Tutti) Pautemos a nossa vida realizando a dádiva de nós próprios e vivendo “materializando” o verdadeiro Amor.
O desafio de viver a fraternidade é imenso. Sinto que, por vezes, é difícil olhar para o outro e acolhê-lo na sua singularidade com respeito, compreensão e misericórdia.
É talvez um longo caminho. Somos convidados a fazer esse caminho em conjunto e com corresponsabilidade. Somos chamados a “propor uma forma de vida com sabor a Evangelho”, dizia Juan Ambrósio. O papa Francisco interpela-nos a sair da nossa zona de conforto, a escutar Deus, a olhar o outro como igual a nós, pleno de potencialidades e a propor uma vida nova, diferente com sabor a Evangelho. Todos, mesmo todos são convidados a este desafio.
Filomena Cruz – ou nos salvamos todos, ou não se salva ninguém
Este ano as jornadas diocesanas, como quase tudo na nossa vida, foram on-line. E a verdade é que esse facto permitiu-me participar sem o incómodo de sair de casa. Mas também me privou do encontro com todos, o sorriso aberto, o abraço, a troca de ideias e ideais…
E por tudo isso participei na convicção de que deste modo poderia acabar por ser enfadonho.
Enganei-me redondamente e por isso agradeço a quem me incitou a estar presente. Não irei falar de tudo pois outros o farão melhor que eu. Vou dar testemunho do que mais me encantou pela positiva que foi a Conferência, ‘o diálogo’ com Juan Ambrósio. E digo diálogo porque ele falou com tanto entusiasmo, com tanta alma, que entrou na minha casa, no meu coração; as suas palavras vibraram em mim como um despertador que me acordou para a vida e me convidou a sair do meu comodismo e ir em busca do outro.
Nunca tinha visto com tanta clareza a importância da linha condutora do pensamento do Papa Francisco nos quatro pilares de um pontificado, olhar global do que é a Igreja e do que estamos a viver.
Perceber que a encíclica Fratelli Tutti não pode pensar-se sem a visão do conjunto das outras grandes mensagens do Papa – Exortações e Encíclicas:
1. Evangelli Gaudium, uma Igreja missionária em saída estando atenta às periferias, propondo-nos uma mudança de pensamento e atitude: não pensar as periferias em relação ao centro mas pensar o centro em relação às periferias; a missão não decorre porque tem uma igreja mas a igreja existe para a missão.
2. Laudato Si, uma Igreja renovada para cuidar da casa comum, uma igreja que se saiba em transformação.
3. Querida Amazónia, onde se reúnem os dois primeiros pilares: Novos caminhos para a Igreja (EG) e para uma ecologia integral (LS)O Santo Papa pede para os padres sinodais o ‘Dom da escuta, escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama.’
4. Fratelli Tutti, pensar o mundo com um sabor a evangelho: Uma única humanidade, caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz mas todos irmãos.
Convoca todas as religiões para a paz, todos os políticos para esta missão. Todos irmãos, cuidando da casa comum e sendo responsáveis pelo bem e desenvolvimento integral de todos e de cada um.
Onde está Abel, teu irmão? Serei eu responsável pelo meu irmão?
Cuido do outro ou passo ao lado (Bom samaritano)?Compromisso: não pensemos numa nova normalidade mas um mundo novo, renascido com todos os rostos, todas as mãos e todas as vozes, poliédrico, mudanças no coração, nos hábitos, estilo de vida:
OU NOS SALVAMOS TODOS OU NÃO SE SALVA NINGUÉM!