Folha Paroquial nº 159 *Ano IV* 14.02.2021 — DOMINGO VI DO TEMPO COMUM

Folha Paroquial nº 159 *Ano IV* 14.02.2021 — DOMINGO VI DO TEMPO COMUM

Sois o meu refúgio, Senhor: dai-me a alegria da vossa salvação.

A folha pode ser descarregada aqui.

“EVANGELHO (Mc 1, 40-45)
Naquele tempo, veio ter com Jesus um leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte.”

MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS

O leproso será um homem inconformado e, por isso, criativo e corajoso ou antes um desobediente às normas estabelecidas que foram feitas para defesa da sociedade?
Como vimos na 1ª leitura, as leis para os leprosos, que vinham desde Moisés, o legislador, eram de grande exigência em confinamento. O leproso tinha de viver como um morto para a sociedade, fora do acampamento, e num grande distanciamento social. Teria de gritar ao aproximar-se alguém da comunidade: «Impuro, impuro», como quem diz: «Não te aproximes, pois está aqui um infetado perigoso»! Como estas palavras se tornaram atuais! Confinamento, isolamento profilático, infetados, manter as distâncias. Nessa altura, porém, a situação era mais dramática por falta de respostas sociais.

Apesar de todas estas proibições, não sabemos qual a estratégia usada pelo leproso, o que é certo é que ele veio ter com Jesus, prostrando-se diante dele e suplicou-lhe: Se quiseres, podes curar-me”. Imagino os discípulos a fugirem daquele encontro com medo do contágio e a censurarem Jesus por não se dar conta do perigo que está a correr. Esperavam provavelmente que Jesus dissesse algo politicamente correto: “´O que fazes aqui? Como quebraste o isolamento social? Como ousaste colocar as nossas vidas em risco?” Mas podia Jesus falar assim? Não. Não estava no seu ADN. Ele disse: “Eu não rejeitarei nenhum dos que venham a mim.” Venham como vierem! Leprosos da vida, prostitutas e prostitutos, homossexuais, casados e descasados e em união de facto, ladrões e salteadores, pois a vontade do Pai é que eu não perca nenhum dos que Ele me deu. Se vierem a mim, não os rejeitarei!» Na Igreja ainda temos de ouvir mais vezes estas palavras de Jesus, pois têm sido difíceis de pôr em prática. Temos criado uma igreja para os puros, e Jesus diz que veio não para os puros, mas para os pecadores. Mas continuemos o nosso quadro. O que os discípulos viram, provavelmente ao longe, foi Jesus a ficar perturbado interiormente pela compaixão, isto é, sentiu dentro de si, como se fosse sua, a dor imensa e terrível daquele homem. Por isso, Jesus entra também no campo do ilegal, desrespeitando a lei do distanciamento social, estendendo a mão e tocando-lhe com carinho e ternura dizendo-lhe: «Quero: fica limpo.»

Que perfume de beleza brota deste encontro entre Jesus e o leproso! Muito maior que um quadro de Picasso, de Rafael ou de Miguel Ângelo, a verdadeira beleza, está nos gestos de amor salvíficos que cada um de nós pode fazer em relação a outros. Estou certo que tem havido muita beleza em tantos gestos de médicos, enfermeiros, e tantos outros que têm dado o melhor de si mesmo para estarem próximos dos irmãos e estender-lhes a mão. Precisamos de encher o mundo desta beleza salvífica. Um sacerdote na nossa Diocese, O P. Nuno Santos, escreveu um livro com a sua tese de doutoramento intitulado: “A esperança que Jesus dá.” Ele analisa 18 encontros de Jesus e mostra como, em cada um desses encontros, Jesus faz renascer a esperança no coração daqueles com quem se encontra. Jesus é a Esperança Viva. E o leproso foi capaz de com criatividade e coragem romper as barreiras que o sepultavam na morte para se abrir à esperança que dá vida.

No final deste encontro, Jesus dá ao leproso uma ordem: Vê lá, não digas nada a ninguém mas vai mostrar-te ao sacerdote. Estava prescrito que alguém recuperado da lepra, se isso fosse possível, teria de ir ao sacerdote para ele declarar a sua cura e puder voltar ao convívio da comunidade. Mas mais uma vez o leproso desobedece. Parece que este leproso não faz nada do que lhe mandam! Talvez seja muito criativo e lhe seja difícil cumprir ordens. Mas aqui compreendemos que lhe era impossível calar-se: Como é que alguém curado da lepra, ressuscitado da morte se poderia calar? Agora é o tempo do anúncio, é o tempo da proclamação das maravilhas de Deus. Jesus irá dizer no Domingo de Ramos quando os fariseus lhe disseram para ele mandar calar os discípulos pois eles gritavam os louvores de Deus e cantavam hossanas com alegria e Jesus respondeu-lhes: «Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras.»(Lc 19,40) O leproso não se podia calar. E quando nós nos calamos muito com receio ou vergonha de falar de Jesus é porque nos tem faltado estes encontros cheios de esperança, de vida e de salvação.

 

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