Folha Paroquial nº 162 *Ano IV* 07.03.2021 — DOMINGO III DA QUARESMA

Folha Paroquial nº 162 *Ano IV* 07.03.2021 — DOMINGO III DA QUARESMA

Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna.

A folha pode ser descarregada aqui.

“EVANGELHO (Jo 2, 13-22)
Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.”

MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS

DESTRUÍ ESTE TEMPLO E EM TRÊS DIAS O LEVANTAREI

Neste terceiro Domingo da Quaresma, a Sagrada Liturgia vai-nos preparando para a páscoa de Jesus através da escuta deste evangelho em que Jesus, devorado pela casa de Deus, expulsa os vendilhões do templo e afirma que o sinal que Ele lhes dará, de que tem autoridade para fazer aquilo, será com a destruição daquele templo e a sua reedificação em três dias. E o evangelista acrescenta: «Ele falava do Templo do seu corpo». Para os judeus, o lugar por excelência do encontro com Deus era o Templo em Jerusalém. Jesus vem estabelecer uma nova ordem: já não é em Jerusalém nem em Garizim o lugar da verdadeira adoração; Ele é que é o verdadeiro lugar do encontro com Deus, pois Ele mesmo é o Filho de Deus. O Templo deixou de ser uma casa para ser uma Pessoa. E essa pessoa vão matá-la, mas Deus ressuscitá-la-á. E quando Ele ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que Ele tinha dito e acreditaram na sua palavra.

A expulsão dos vendilhões do templo revela o amor zeloso que Jesus tem pela santidade do nome de Deus, e para que Ele não seja invocado em vão. Quando os discípulos lhe pedem para que os ensine a rezar como Ele reza, as primeiras palavras que lhes ensinou foi: “Pai nosso, que estás nos céus, que o Teu nome seja santificado”. Dizer que estás nos céus, é dizer que não se confunde com a criação, com a terra, pois Ele é o criador. E santificado, quer dizer mais ou menos a mesma coisa: a santidade, em Deus, indica o que Ele tem de único, de inefável, de estar acima de tudo e de todos e de não fazer parte da nossa realidade quotidiana. Ele é o totalmente outro. Diante dele o homem é convidado ao santo temor de Deus e, aqui, «temor» não indica medo, mas veneração, respeito, espanto, assombro diante da santidade do seu nome. E é porque o seu nome deve ser santificado que não deve ser invocado em vão. Vemos assim quanto os mandamentos dados por Deus ao povo durante o Êxodo estão presentes nas atitudes de Jesus. Ele não veio para abolir a lei antiga dada a Moisés, mas para a levar à perfeição do amor.

Olhando para os dez mandamentos (os judeus chamam-lhe as dez palavras), é a primeira frase que é como o fundamento de todas as outras que se lhes seguem. “Eu sou o Senhor teu Deus que te fez sair da terra do Egipto.” O que significa: eu sou o Senhor teu Deus que te tirei da escravidão para fazer de ti um povo livre. É este preâmbulo que justifica todo o resto. A originalidade da Lei, em Israel, não é o seu conteúdo, é em primeiro lugar o seu fundamento: A libertação do Egipto. A Lei serve como caminho de aprendizagem da liberdade. Podemos ler cada um dos mandamentos como um empreendimento de libertação do homem, da parte de Deus, ou um método de aprendizagem da liberdade do homem. E a nossa quaresma é também um êxodo da escravidão dos ídolos que querem dominar-nos. Por isso ouvimos Deus dizer a Moisés, a Israel e também a nós hoje: “Não terás outros deuses perante Mim”. Os profetas ao longo de todo o Antigo Testamento serão campeões na luta contra a idolatria e não lhes foi nada fácil este combate que teve muitos insucessos. E hoje é a mesma coisa, porque a definição de um ídolo é aquilo que ocupa no nosso coração o lugar de Deus e acaba por fazer de nós escravos. Pode ser uma seita, mas também o dinheiro, o sexo, uma droga, as redes sociais, a internet, ou tudo aquilo que pode ocupar os nossos pensamentos, ao ponto de nos fazer esquecer o que é importante.

“Não farás nenhum ídolo, nenhuma imagem”: todas as imagens são interditas porque falsas; Deus é o totalmente outro, o inacessível. É por pura graça que se faz próximo de nós. Então como se compreende que nós, católicos, tenhamos imagens? Em primeiro lugar não temos, nem podemos ter, imagens de Deus que seriam falsas pois «jamais alguém viu a Deus». Como o poria em imagem? Mas, se hoje colocamos diante dos nossos olhos imagens de Jesus, é porque o Mistério da Incarnação tornou possível o acesso ao mistério divino numa pessoa viva, com um corpo através do qual Deus feito homem pode exprimir-nos o seu amor, até à morte e morte de cruz. Quanto às imagens dos santos, e de modo particular da Virgem Maria, são postas diante de nós não para os adorar, mas porque são exemplos para nós e eles podem representar-se pois foram homens e mulheres que viveram connosco. Estas imagens não são ídolos. Elas não nos desviam de Cristo, elas conduzem-nos para Ele apesar de alguns excessos de certos cultos populares.

Todos os mandamentos são para nos tornarmos mais livres. Por exemplo, o respeito pelo sábado foi muito importante, pois essa Lei divina permitia às pessoas, pelo menos num dia por semana, descansarem o corpo e levantarem os olhos para o alto de onde lhes vinha a salvação. E até os escravos deviam descansar em dia de sábado. Se no trabalho não se introduz o descanso, o homem fica escravo do trabalho. Mas o sábado não é só o dia do descanso, é o dia da santificação do Senhor, o dia em que o homem celebra a sua libertação. Por mandato de Cristo, o homem novo recebe um dia novo, o dia do Senhor, o Domingo. E este dia, sendo também de repouso, é fundamentalmente o dia da ressurreição, o dia da Eucaristia. Pelo afastamento de Deus e da sua palavra muita gente hoje anulou o Domingo, fazendo dele apenas um dia feriado para fazer outra coisa qualquer, mas não dia de se lembrar donde vem e para onde vai e quem são, como seres humanos e filhos de Deus. Que toda esta quaresma nos ajude a chegar ao dia novo da Vigília pascal em que, de vela acesa na mão, renunciaremos aos ídolos, à injustiça, ao reino das trevas, para aderir ao novo reino da liberdade e da graça que Cristo nos oferece pela sua morte e ressurreição.

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