Folha Paroquial nº 188 *Ano IV* 03.10.2021 — DOMINGO XXVII DO TEMPO COMUM

Folha Paroquial nº 188 *Ano IV* 03.10.2021 — DOMINGO XXVII DO TEMPO COMUM

O Senhor nos abençoe em toda a nossa vida.

A folha pode ser descarregada aqui.

EVANGELHO ( Mc 10, 2-16 )
“Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova e perguntaram-Lhe: «Pode um homem repudiar a sua mulher?». Jesus disse-lhes: «Que vos ordenou Moisés?». Eles responderam: «Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para se repudiar a mulher». Jesus disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei. Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu». Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo sobre este assunto. Jesus disse-lhes então: «Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério». Apresentaram a Jesus umas crianças para que Ele lhes tocasse, mas os discípulos afastavam-nas. Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis: dos que são como elas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». E, abraçando-as, começou a abençoá-las, impondo as mãos sobre elas”.

 

MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS

Não separe o homem o que Deus uniu
Estamos a celebrar o 5º aniversário da Exortação Apostólica Amoris Laetitia (a Alegria do Amor) do Papa Francisco e, por causa disso, estamos a viver o ano da família. As leituras deste Domingo ajudam-nos a refletir sobre esta grande instituição de sempre que é a família.

Numa reflexão homilética, não é possível tratar de uma forma abrangente um tema tão importante e por isso farei pouco mais do que a análise dos textos bíblicos.

Uma das situações onde se nota mais a mudança cultural do nosso tempo é na compreensão do casamento como lugar estável da vivência da relação conjugal de um homem com uma mulher. Mesmo nos jovens cristãos que frequentam os grupos das nossas paróquias, muitos deles não vêm a necessidade do casamento como fundamental para a vivência dessa relação ou, se pensam nela, retardam-na para mais tarde, depois de se conhecerem bem. O casamento para toda a vida, já não é uma perspetiva para a esmagadora maioria dos jovens. E penso que muitos deles nem sequer se interrogam sobre o que Deus diz sobre isso, pois o pensamento cultural que os envolve é tão forte e tão avassalador que lhes parece ser a resposta normal. Como diz o Papa na Amoris Laetitia, «Muitos não sentem a mensagem da Igreja sobre o matrimónio e a família como um reflexo claro da pregação e das atitudes de Jesus, o qual, ao mesmo tempo que propunha um ideal exigente, não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adúltera.» Ora, esta deve ser a atitude da Igreja. «Não podemos renunciar a propor o matrimónio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ( …) estaríamos a privar o mundo dos valores que podemos e devemos oferecer» (…) É-nos pedido um esforço mais responsável e generoso que consiste em apresentar as razões e os motivos para se optar pelo matrimónio e pela família, de modo que as pessoas estejam melhor preparadas para responder à graça que Deus lhes oferece». (AL, 35)
As leituras deste Domingo convidam-nos a ir ao princípio, onde tudo começou, ao projeto divino da criação, ao plano de felicidade que Deus pensou para a humanidade. E nesse plano está o casal humano e a família. Olhemos um pouco para as leituras.

Deus criou o ser humano à sua imagem; homem e mulher o criou

A 1ª leitura situa-nos nos primeiros capítulos do 1º livro da Bíblia, o Génesis, um livro que faz parte daquilo a que se chama «sabedoria», quer dizer, não é história, mas reflexão. No 2º século antes de Cristo, provavelmente na corte de Salomão, um teólogo sentia-se inundado de questões: «Porquê a morte? Porquê o sofrimento? Porquê as dificuldades no casal? E todas as dificuldades com as quais nos enfrentamos tantas vezes – Para responder, ele contou uma história como Jesus contava parábolas. O autor não é um cientista, é um crente. Ele não pretende responder-nos ao quando e ao como da criação: Ele diz o sentido, o projeto de Deus. A parábola de hoje tenta compreender e situar a relação conjugal no plano de Deus. E como todas as histórias e parábolas, ele emprega imagens: o jardim, o sono, o lado. Sob estas imagens prefigura-se uma mensagem para todos os tempos e para toda a humanidade em geral. A expressão Adão quer dizer terreno, feito do pó, não é um nome pessoal.

E qual a mensagem teológica deste texto?

Resumo-a em 4 pontos:

1º: A mulher faz parte da criação desde a origem (o que na Mesopotâmia não era evidente). Ela é um dom de Deus e o homem não pode ser feliz sem ela nem a humanidade ser completa.

2º: O projeto de Deus é a felicidade do homem. A expressão: “não é bom que o homem esteja só”, significa que Deus procura a alegria e felicidade de cada pessoa.

3º: É uma afirmação muito importante e inovadora na Bíblia: a sexualidade é boa pois faz parte do projeto de Deus. É um dado muito importante para a felicidade do homem e da mulher.

4º: O ideal proposto ao casal humano não é o domínio de um sobre o outro, mas a igualdade no diálogo; e quem diz diálogo, diz ao mesmo tempo distância e intimidade.

No evangelho colocam uma pergunta a Jesus sobre o divórcio e Jesus condu-los ao plano original de Deus que é narrado na 1ª leitura: «Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, homem e mulher os criou.» A verdadeira vocação do casal é ser imagem de Deus e é porque são imagem de Deus que «o homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e serem um só». Se o casal humano é imagem de Deus deve ser indivisível e indissolúvel e Jesus tira a conclusão lógica: «O que Deus concebeu na unidade não o separe o homem».

O divórcio é, pois, contra a vontade de Deus. Este é o ideal irrenunciável, mas quando se vive na realidade concreta, por causa da dureza do nosso coração e da nossa fragilidade, muitas vezes não se consegue o ideal. Não podemos condenar ninguém por não conseguir viver esse ideal, que noutros campos, nós também não conseguimos. Daí o Papa Francisco com a publicação da Amoris Laetitia ter aberto a porta à possibilidade de uma plena integração na comunidade cristã, incluída a comunhão eucarística, a casais que tendo falhado o primeiro casamento e contraindo um segundo pelo civil, testemunham uma estabilidade na sua relação conjugal da qual nasceram filhos, e tudo parece que este casamento é para durar. Na nossa UP já vários casais têm feito com o sacerdote um tempo de acompanhamento e discernimento até ao dia em que começam a comungar.

Mas, é verdade que viver uma relação a dois não é fácil. Por isso, os discípulos dizem a Jesus: “Se é assim tão difícil o casamento, vale mais nem se casar”- é a conclusão de muitos jovens e, por isso, optam por não se comprometerem no casamento. Vão vivendo a prazo, até que der, em vez do clássico «até que a morte nos separe». Mas pode o amor conceber a sua existência a prazo? Carolina Deslandes, na sua canção «a vida toda», canta como refrão: “Ali, eu soube que era amor para a vida toda, que era contigo a minha vida toda, que era um amor para a vida toda”. Mas, como disse, mesmo se esse é o desejo dos amantes, se a realidade da construção da unidade num casal fosse fácil a questão do divórcio não se colocava. E se sempre foi difícil, hoje, por causa da mentalidade de hoje, é mais difícil. Vivemos numa cultura que se centrou no indivíduo, e o casal são dois. Isso dificulta logo a convivência. Só pela graça de Deus se pode entrar no mistério do amor e das suas exigências. Entregues às nossas forças, não conseguimos responder ao desígnio do criador. A palavra mistério (grega) diz-se em latim sacramento. O sacramento do matrimónio é o dom da graça de Deus para o casal se amar com o amor vitorioso de Deus que é maior do que a morte. O matrimónio é infinitamente mais do que um casamento civil na igreja, é um dom extraordinário da graça que os habilita a amarem-se de um amor que tudo vence em Cristo, mas, para que o sacramento do matrimónio seja eficaz, tem de ser celebrado e vivido na fé. Sem fé, o sacramento não funciona.

Como é belo quando presidimos a uma celebração do matrimónio de um casal com fé!

Quanto ainda temos de caminhar na preparação dos noivos para o casamento! E no acompanhamento nos primeiros anos.

Na Unidade pastoral estamos a formar uma nova equipa de pastoral familiar para ir acompanhando a situação das famílias e proporcionar alguns instrumentos para ajuda dos casais nas diversas fases da sua caminhada: temos agendado um novo percurso de casamento conhecido por “ela e ele”, embora o nome tenha mudado para «curso de casamento», e queremos começar, ainda este ano, o percurso para noivos que dura 8 semanas.

Com o percurso para noivos, queremos ajudá-los a prepararem-se para o matrimónio. Com o curso de casamento, desejamos acompanhar os casais, casados, há pelo menos 5 anos. Com o curso “Amor e Verdade”, desejamos apontar o caminho sólido do enraizamento em Cristo do casal cristão para viverem a santidade na família.

Que a comunidade cristã toda se empenhe na oração e na ajuda que puderem ao casal e à família, tarefa difícil mas da qual não devemos desistir pela importância que tem para a felicidade de cada um, para a Igreja e para o bem da sociedade.

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