Disse há dias o Pe Jorge numa reunião – em jeito de brincadeira, claro – que o Papa Francisco só nos dá trabalho.
Mas é trabalho do bom, daquele que dá frutos. Na verdade, a braços com o restabelecimento da vida comunitária nas nossas Igrejas paroquiais, fomos confrontados de surpresa com o Ano de São José, depois com o Ano Amoris Laetitia, e agora com o sínodo. E de facto, não é tarefa fácil encaixar todos estes desafios numa agenda pastoral que de si já é muito preenchida e exigente.
Desde o dia 16 de novembro que, passo a passo, o Departamento Nacional de Pastoral Familiar começou a publicar nas redes sociais uma proposta de decálogo para as famílias (10 mandamentos) emanado do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (um organismo do Vaticano): uma nova iniciativa no quadro do Ano “Família Amoris Laetitia”, dedicado pelo Papa Francisco às famílias – e que terminará no final da primavera de 2022.
Depois do rosário dos namorados, do rosário das famílias, da campanha social #WalkingwithFamilies, dos 10 vídeos Amoris Laetitia com o Santo Padre em diálogo com famílias do mundo todo e de muitos outros eventos e publicações, sai agora um Decálogo para as crianças, com 10 conselhos para crescer juntos – pais e filhos – no ambiente familiar, colocando em prática o que o Papa Francisco diz na exortação apostólica Amoris Laetitia.
São 10 dicas que os pais e educadores podem dar aos pequeninos para fazê-los descobrir a importância do diálogo em família, da fraternidade, do valor de si e do espírito de serviço.
Mesmo com toda a sua simplicidade, a campanha é importante, porque deseja – de acordo com as intenções do Dicastério – contribuir para focalizar a atenção pastoral na formação e educação das crianças em família, para ajudar os pais a não se renderem diante de tantos problemas hoje tão comuns na pré-adolescência. Estes geralmente são causados pela falta de diálogo com os filhos e de um profundo sentimento de solidão da parte das crianças, que, hoje em dia, podem esconder experiências traumáticas, como, por exemplo, o cyberbullying.
Assim, nas próximas semanas, iremos focar-nos em cada um destes 10 mandamentos: um por semana.
Amabilidade
Amar é também tornar-se amável, e nisto está o sentido do termo asjemonéi. Significa que o amor não age rudemente, não actua de forma inconveniente, não se mostra duro no trato. Os seus modos, as suas palavras, os seus gestos são agradáveis; não são ásperos, nem rígidos. Detesta fazer sofrer os outros. A cortesia «é uma escola de sensibilidade e altruísmo», que exige que a pessoa «cultive a sua mente e os seus sentidos, aprenda a ouvir, a falar e, em certos momentos, a calar». Ser amável não é um estilo que o cristão possa escolher ou rejeitar: faz parte das exigências irrenunciáveis do amor, por isso «todo o ser humano está obrigado a ser afável com aqueles que o rodeiam». Diariamente «entrar na vida do outro, mesmo quando faz parte da nossa existência, exige a delicadeza duma atitude não invasiva, que renova a confiança e o respeito. (…) E quanto mais íntimo e profundo for o amor, tanto mais exigirá o respeito pela liberdade e a capacidade de esperar que o outro abra a porta do seu coração».
A fim de se predispor para um verdadeiro encontro com o outro, requer-se um olhar amável pousado nele. Isto não é possível quando reina um pessimismo que põe em evidência os defeitos e erros alheios, talvez para compensar os próprios complexos. Um olhar amável faz com que nos detenhamos menos nos limites do outro, podendo assim tolerá-lo e unirmo-nos num projecto comum, apesar de sermos diferentes.
O amor amável gera vínculos, cultiva laços, cria novas redes de integração, constrói um tecido social firme. Deste modo, uma pessoa protege-se a si mesma, pois, sem sentido de pertença, não se pode sustentar uma entrega aos outros, acabando cada um por buscar apenas as próprias conveniências, e a convivência torna-se impossível. Uma pessoa anti-social julga que os outros existem para satisfazer as suas necessidades e, quando o fazem, cumprem apenas o seu dever. Neste caso, não haveria espaço para a amabilidade do amor e a sua linguagem. A pessoa que ama é capaz de dizer palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem, consolam, estimulam. Vejamos, por exemplo, algumas palavras que Jesus dizia às pessoas: «Filho, tem confiança!» (Mt 9, 2). «Grande é a tua fé!» (Mt 15, 28). «Levanta-te!» (Mc 5, 41). «Vai em paz» (Lc 7, 50). «Não temais!» (Mt 14, 27). Não são palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam. Na família, é preciso aprender esta linguagem amável de Jesus.
Amoris Laetitia, nº 99 e 100