Uma das figuras do presbitério de São João Baptista é a imagem muito bela de Nossa Senhora da Visitação.
Em São João Baptista, uma comunidade que geralmente é animada liturgicamente seguindo a linha do Renovamento Carismático e da Comunidade Emanuel, gostamos de brincar dizendo que os cânticos são tão alegres e tão convidativos à participação da assembleia que até Nossa Senhora tem vontade de dançar – como podemos verificar a partir da foto, os braços de Maria, dispostos da posição de quem está prestes a acolher ou a abraçar, indiciam movimento e até dança.
Transcrevemos aqui parte da homilia do Pe Jorge a propósito da visitação:
Porque será que S. Lucas nos diz que Maria se dirigiu apressadamente para a montanha? Num tempo onde tudo se vivia com calma, em que não havia aviões e comboios para apanhar, tudo se fazia com tempo, porque vai ela apressadamente?
Tinha acabado de receber a visita do anjo Gabriel, diz sim a Deus, e o Espírito Santo vem sobre ela e, nesse momento, «O verbo fez-se carne e habitou entre nós».
Uma primeira razão será porque o amor de Deus que se revela a ela «a absorve completamente» e a impele a ir ao encontro de quem dela pode precisar. S. Paulo, na segunda Carta aos Coríntios, relatando a sua experiência da fé, diz que “o amor de Cristo nos impele” ao pensar que um só morreu por todos. Maria também se sente impelida a ir apressadamente porque tem um evangelho para partilhar com Isabel e leva-O consigo. O Evangelho é Jesus, o bendito fruto do seu ventre. Quem tem uma boa e grande notícia para contar vai lenta e vagarosamente ou vai saltando pelas montanhas e pulando pelas colinas?
Poderemos ainda acrescentar outra razão: quando Maria pergunta ao anjo – Como será isso? Ser mãe sem a intervenção de um homem?, o anjo responde-lhe: «O Espírito Santo vira sobre ti e a força do altíssimo te cobrirá com a sua sombra, por isso o que vai nascer será chamado Filho do Altíssimo. Também a tua parenta Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus» (Lc 1, 36).
Ela vai apressadamente não só porque leva uma Boa Nova a Isabel, mas porque vai também confirmar com os seus olhos a Palavra do anjo e, diante de tantas maravilhas de Deus, poderem ambas apresentar-lhe o seu sacrifício de louvor. E esta palavra sacrifício, por vezes tão mal compreendida, leva-nos à 2ª leitura da carta aos Hebreus. Ela explica que, com a vinda de Cristo, o que diz respeito aos sacrifícios muda totalmente de sentido, despojando-se, pouco a pouco, dos significados arcaicos para se tornar «o sacrifício de louvor». Deus dá, nós recebemos. O reconhecimento, a gratidão para com Deus é o verdadeiro sacrifício que lhe agrada.
Que acontece no encontro com estas duas mulheres? Um jorro de reconhecimento da parte de Isabel e uma explosão de louvor da parte de Maria. Uma dupla ação de graças. É este o verdadeiro e autêntico sacrifício. Chamamos a esta passagem do evangelho de «visitação». Para além da visita que Maria faz a Isabel, há a visita de Deus que, como arca da Aliança, Maria leva consigo. Estas duas mulheres são figura da humanidade que acolhe Deus.
Pe Jorge Santos