O Senhor abençoará o seu povo na paz.
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EVANGELHO ( Lc 3, 15-16.21-22 )
Naquele tempo, o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias. João tomou a palavra e disse-lhes: «Eu baptizo-vos com água, mas vai chegar quem é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias. Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo». Quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi baptizado; e, enquanto orava, o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do céu fez-se ouvir uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência».
MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS
“A investigação histórica do Novo testamento mostrou que o Batismo de Jesus no Jordão é um facto histórico incontestável, em nada menos que a sua morte na cruz em Jerusalém. Ainda que seja impossível escrever uma história da vida de Jesus, pois esta não foi a intenção dos evangelistas, o início e o fim da vida pública de Jesus, o seu batismo e a sua morte na cruz, capítulos na história da sua vida, são reproduzidos no Novo Testamento com fidelidade histórica. E, se os evangelistas quiseram deixar-nos estes dois marcos históricos na sua originalidade, é por aquilo que eles nos dizem sobre a identidade de Jesus e sobre a nossa própria identidade de discípulos d’Ele.
O batismo de Jesus por João Baptista no Jordão e o batismo cristão não têm a mesma força e sentido, são muito diferentes. No entanto, o batismo de Jesus é-nos narrado como uma catequese para todos os tempos, para explicar o que é a iniciação cristã. Os evangelistas, quando escrevem, têm como pano de fundo a experiência das comunidades cristãs vivida no batismo. Não esqueçamos que os evangelhos sinópticos, Marcos, Mateus e Lucas, são escritos já por volta dos anos setenta a oitenta, e S. João por volta do ano cem. As comunidades tinham catequeses batismais que preparavam os catecúmenos (os que pediam para serem cristãos) para receberem os três sacramentos da Iniciação cristã na mesma celebração, na Vigília Pascal. Aí eram batizados, crismados e incorporados na comunidade cristã pela participação na Eucaristia.
S. Lucas apresenta-nos o batismo de Jesus em duas partes distintas: na primeira parte diz-nos que, quando todo o povo recebeu o batismo, Jesus também foi batizado. Ele parece ser o último da fila. O evangelista pretende dizer-nos que a missão de João Baptista está completa. Ele veio para preparar o caminho para o Messias, e ele está ali para ser batizado por João. «Agora é preciso que ele, João, diminua, para que Ele, Jesus, cresça». No batismo da água, somos salvos do pecado e da morte espiritual e incorporados a Cristo. Jesus não precisa de ser batizado, pois não tem pecados, mas ele veio ao mundo para se solidarizar com os homens pecadores e dar a vida para remissão dos pecados. Por isso, o batismo de Jesus é um gesto humilde de solidariedade. Na segunda parte do batismo é narrado que, depois que Jesus saiu da água e enquanto orava, o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do céu fez-se ouvir uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência». Temos assim o batismo como dois momentos: o batismo na água para sermos salvos do pecado e da morte e recebermos a vida eterna e, depois, a experiência do Espírito Santo. Sabemos hoje que o batismo da água para o perdão dos pecados era na Igreja primitiva nitidamente distinto da imposição das mãos (como sinal da continuação da experiência do Pentecostes). Na imposição de mãos não está em jogo a salvação pessoal do batizado que já foi salvo pela fé em Cristo, proclamada no batismo. O batismo no Espírito Santo está orientado para a salvação dos outros, para o testemunho, para o serviço na comunidade segundo os carismas do Espírito.
Na tradição da Igreja, o batismo na água para o perdão dos pecados e a experiência que Jesus faz do Espírito Santo – e que a Igreja faz no Pentecostes, depois da ressurreição, são transmitidos através de dois sacramentos: o Batismo e a confirmação. Por aqui percebemos que só o batismo não chega para fazer de nós cristãos completos. Batismo, crisma e Eucaristia fazem uma tri-unidade a que chamamos de Iniciação cristã. Daí a razão que para assumir pequenas e grandes responsabilidades na Igreja seja necessário ter sido crismado, isto é, ser cristão que completou a iniciação cristã.
Habitualmente, estes três sacramentos, quando se trata de batismos de adultos ou de crianças em idade escolar, são recebidos na mesma celebração, a Vigília pascal; mas, no batismo das crianças, recebe-se só o batismo, protelando-se para mais tarde o crisma e a participação plena na Eucaristia.
Hoje, a partir dos 6 anos de idade, as crianças não podem receber o batismo como bebés que já não são. Devem entrar na catequese e, com os seus colegas, fazerem os três primeiros anos da catequese que prepara os já batizados para o sacramento da Eucaristia e prepara os ainda não batizados para o batismo e a Eucaristia, recebendo o sacramento do crisma depois de terminada a catequese habitual dos dez anos.
O batismo gera em nós novas relações de comunhão e corresponsabilidade.
Pelo batismo, nós ficamos de tal modo unidos a Cristo que nos tornamos um com ele como os ramos da videira fazem uma só planta quando estão unidos ao tronco. Esta união com Cristo faz-nos entrar no dinamismo de amor e comunhão que existe na Trindade. É desta comunhão dos cristãos com Cristo que brota a comunhão dos cristãos entre si, que passam a ser e a chamar-se irmãos. O batismo é, pois, o sacramento da comunhão e da unidade de todos os cristãos. Pelo batismo, somos fundamentalmente iguais, pois «agora já não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus» (Gal 3, 28).
Na igreja, durante muitos séculos, acentuámos mais a diversidade dos membros da Igreja através do ministério ordenado e deixou-se na obscuridade a maioria dos membros da Igreja, os cristãos leigos. Por causa destes hábitos criados, ainda existe uma mentalidade que acha que a responsabilidade da edificação da Igreja está quase toda da parte dos ministros ordenados e os leigos vão fazendo algumas coisas ao serviço do ministério ordenado. O Concílio Vaticano II declarou que «Unidos no Povo de Deus, e constituídos no corpo único de Cristo sob uma só cabeça, os leigos, sejam quais forem, todos são chamados a concorrer como membros vivos, com todas as forças que receberam da bondade do Criador e por graça do Redentor, para o crescimento da Igreja e sua contínua santificação» LG nº 33. Os leigos, ao exercerem a sua missão batismal na igreja, não são colaboradores do padre, mas, com ele, são corresponsáveis da construção da comunidade cristã. Sobre isto falaremos mais nos próximos domingos, ao desenvolver “o essencial” do serviço na igreja.
Celebrando o batismo do Senhor Jesus, recordemos o nosso próprio batismo e demos graças a Deus pela graça que nos foi dada de, em Cristo, «nascermos de novo» pela água e pelo Espírito Santo, termos recebido um coração novo e um mandamento novo para sermos membros de um povo novo chamado a cantar um cântico novo e a testemunhar, pela vida e pela palavra, a novidade da vida em Cristo e no seu Espírito. No batismo, recebemos a vida eterna e o espírito de adoção filial pelo qual podemos chamar a Deus Abba, Pai. Grandes maravilhas fez por nós o Senhor !”