O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.
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Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».
EVANGELHO Lc 18, 9-14
Na génese de todo o pecado e de todas as divisões e guerras entre os homens e as sociedades está um pecado de orgulho que nos cega e nos destrói. Na narrativa bíblica a primeira queda do ser humano tem na base um pecado de orgulho que consiste na recusa em ser criatura que reconhece o seu criador. A tentação da serpente é: “Se comerdes do fruto da árvore tereis o conhecimento do bem e do mal e sereis como Deus.” Foi o orgulho que levou à escravatura de uma raça por outra, pois uns eram considerados dignos, outros não, é o orgulho que leva um país a invadir outro porque o invasor acha que tem o direito de ser uma grande nação à custa do outro a quem não se reconhece o mesmo direito. O orgulho faz-nos julgar os outros sempre a partir de cima para baixo. Também as religiões se encheram de orgulho pois consideraram a sua religião como especial e justa e olharam os outros como sujos e impuros, indignos de Deus. Nós considerámos os muçulmanos «infiéis» e eles pagaram-nos na mesma moeda e ainda hoje nos tratam como tal. O nível elevado de intolerância religiosa e de assassinatos por motivos religiosos em certas partes do mundo não é estrangeiro a este sentimento de superioridade que decorre da relação com Deus.
O fariseu tipifica o orgulho de quem se sente do lado de Deus, e por isso, puro, olhando os outros como impuros e indignos. «Dou-vos graças por não ser com os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano.»
Provavelmente sentimos arrepios com o orgulho do fariseu e normalmente simpatia pelo publicano, mas precisamos de pensar um pouco para descobrirmos que temos muito de farisaico na nossa vida e nos deixamos levar pelo orgulho de considerar os outros abaixo de nós.
O orgulho é a própria mentira porque nos faz sentir superiores aos outros, nós que somos frágeis e fracos como eles, todos criaturas de Deus. Por isso, Deus que é a verdade, ao vir até nós para nos salvar, veio na profunda humildade, fazendo-se homem pobre e fraco, obediente até à morte e morte de cruz. Por isso todo aquele que quiser ser discípulo de Jesus deve aprender a viver o caminho de humildade que Ele viveu.
A oração que Jesus escuta é a oração do humilde, “pois essa atravessa as nuvens”.
Há muita forma dissimulada de vivermos este orgulho: Agarramo-nos a ritos e fórmulas do passado, a maneiras de comungar pretensiosamente mais puras, à desobediência e crítica em relação ao papa e às orientações do magistério da Igreja e podíamos continuar.
Neste Dia Mundial das Missões o Santo Padre recorda-nos que “os missionários de Cristo não são enviados para comunicar-se a si mesmos, mostrar as suas qualidades e capacidades persuasivas ou os seus dotes de gestão”. Pelo contrário, na sua fraqueza, são chamados a testemunhar a força do Espírito Santo, protagonista da missão.
Extratos da mensagem do papa comentados.
«Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (At 1, 8). São estas as palavras que o Papa Francisco escolheu para a celebração deste Dia Mundial das Missões. Estão aqui três afirmações fundamentais, que têm no testemunho do Apóstolo Paulo o seu mais belo exemplar:
1.ª: Somos testemunhas de Cristo. Não somos publicitários de um líder espiritual, nem vendedores de recordações de um Cristo passado. Somos testemunhas de um acontecimento, de um Cristo vivo, que vive em nós e faz nova a nossa vida. Não basta, por isso, o anúncio da Palavra, como se déssemos a conhecer um autor importante do pensamento, da literatura universal ou da cultura clássica. Faz falta o testemunho do que vimos e ouvimos, do que fez em nós e por nós o Filho de Deus. O testemunho de fé é a primeira forma de evangelização (cf. RMi, 42). Disse-o claramente São Paulo VI: «O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres (…) ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas» (EN 41). Na evangelização, em casa ou fora dela, caminham sempre juntos o exemplo de vida cristã e o anúncio de Cristo. Um serve o outro. São os dois pulmões, com que deve respirar cada pessoa e cada comunidade, para serem missionárias. Só na medida em que nos virem transformados por Cristo, é que outros poderão sentir-se atraídos por Ele. Mas pode acontecer hoje – e quem não o sente? – que o testemunho cristão chegue ao seu extremo do martírio. Na Nigéria ou em Portugal, o cristão tem de estar pronto a testemunhar Cristo, até dar o Sangue por Ele. Paulo dizia hoje: “eu já estou a ser oferecido em libação” (2 Tm 4,6). E o seu combate levou-o a dar a vida por Jesus, como Jesus deu a Sua vida por ele. Este é o tempo, em que dar testemunho de amor a Cristo e à Igreja pode deixar-nos isolados, a falar sozinhos no deserto, pode custar-nos o insulto nas redes sociais, o desprezo dos bem-pensantes, a discriminação ou a exclusão em lugares de responsabilidade eclesial, social, cultural ou política. Sobretudo, aos mais jovens, nesta hora de receber os Símbolos da JMJ, digo-vos: não tenhais vergonha de dar testemunho de Cristo, em lugar nenhum da vossa vida, custe o que custar. Dai testemunho do que Ele fez, do que Ele está a fazer em vós, por meio de vós e a vosso favor. Envergonhai-vos somente do pecado. Mas não vos envergonheis de Cristo!
2.ª: Somos enviados até aos confins do mundo. A missão não tem fronteiras: ela vai desde a própria casa à terra onde vivemos, até chegar mais longe e além-mar a todas as periferias que precisam da luz do Evangelho. Os territórios de missão não são longínquos. São, em primeiro lugar, os corações de tantos batizados, que ainda não conheceram a alegria e a beleza do encontro com Cristo. E esses moram em nossa casa, são nossos vizinhos, são nossos companheiros de estudo, de trabalho, de ginásio, de convívio. É ao coração de cada um deles, que somos enviados a levar o Evangelho, para que todos os pagãos, por nosso intermédio, O escutem e sobretudo O vejam em nós, em carne viva. Esta receção aos Símbolos da JMJ, por tantas pessoas, muito para além dos nossos adros, diz-nos onde estão hoje os campos de missão! Que nenhum deles fique por cultivar!
3.ª: Na missão, não vamos sozinhos nem por nossa própria conta e risco. O Espírito Santo é o protagonista da missão; não somos nós nem vamos sós. Não somos enviados, como fariseus, para nos comunicamos a nós mesmos, para exibirmos as nossas qualidades e capacidades persuasivas ou os nossos dotes de gestão. Não. Na nossa pobreza e na nossa fraqueza, precisamente quando ninguém se põe do nosso lado, nós – tal como Paulo – mostramos ao mundo que o Senhor está a nosso lado, que nos anima, esclarece e fortalece com a graça do Espírito Santo!
Que a receção à Cruz peregrina da JMJ e ao ícone de Maria, Salvação do Povo romano, nos inspire o testemunho feliz e corajoso de que Cristo vive e é a mais formosa juventude deste mundo (cf. Christus vivit, 1).