Folha Paroquial 25.12.2022 – Domingo de Natal

Folha Paroquial 25.12.2022 – Domingo de Natal

Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus.

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Missa do Galo no YouTube (24 Dez, 23h00)  –  https://youtu.be/eok_2fUuIyA
Missa de Natal no YouTube (25 Dez, 11h00)  –  https://youtu.be/MIZ6_R8_elU

No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo se fez por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito. N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam. Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu. Veio para o que era seu e os seus não O receberam. Mas àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho d’Ele, exclamando: «É deste que eu dizia: ‘O que vem depois de mim passou à minha frente, porque existia antes de mim’». Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos graça sobre graça. Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer.

EVANGELHO ( Jo 1, 1-18 )

Natal não é mito, é acontecimento histórico

Celebramos o Natal situados num tempo histórico que é o nosso, marcado pela guerra na Ucrânia e pelas suas consequências nas nossas vidas com o aumento galopante da inflação que gera pobreza e exclusão, pelas mudanças climáticas que condicionam o nosso futuro e também já o nosso presente. Cada um de nós vive também de modo pessoal este Natal dentro de alegrias e esperanças concretas que são as suas como um novo emprego, o nascimento de um filho ou uma mudança para uma nova casa. O Natal ontem como hoje celebra-se sempre num tempo e numa história concreta. É que o Natal não é um mito. Por isso, no evangelho que acabámos de ouvir S. Lucas situa bem o acontecimento do nascimento de Jesus na história de Israel e do Império romano. Um recenseamento mandado fazer pelo Imperador César Augusto, quando Quirino era governador da Síria.

Para o crente, a historicidade da Fé é um selo da autenticidade da revelação. Celebrando o nascimento de Jesus como um acontecimento histórico, nós sublinhamos a sua importância central para toda a humanidade.

Num momento preciso da história, Deus eterno inseriu-se no tempo; Aquele que não tem princípio e nem fim ia entrar na nossa história aceitando ser medido pelo tempo, a ter como qualquer um de nós, um passado e um futuro, um nascimento, uma juventude, uma maturidade, e uma morte. Este momento da história, de extrema importância, iria mudar o curso do tempo. Antes de Jesus, o tempo avançava e convergia para Ele. Depois da sua passagem por este mundo, o tempo, continuando sempre o seu curso implacável, fica, por assim dizer, vinculado a Jesus. A Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus, apoia-se n’Ele, faz memória d’Ele, repete as palavras e gestos que aprendeu d’Ele. Voltada para Jesus, a Igreja é também atraída por e para Jesus, pois ela vive na esperança jubilosa da sua última vinda e da realização plena do reino de Deus.

O natal e o combate entre a luz e as trevas

Por outro lado, esta presença de Jesus revela-nos em negativo o drama da nossa vida humana, quer dizer a nossa incapacidade a acolher a verdadeira vida. Esta noite de Natal sublinha o combate dramático entre a luz e as trevas. Desde as primeiras horas da sua vinda a esta terra, Jesus, que é a Vida e a Luz verdadeira, é marcado pela rejeição, «não havia lugar para Ele na hospedaria». A rejeição de uma mulher que vai dar à luz e do seu filho sublinha desde os começos da vida de Jesus, a falta de humanidade da terra onde ele acaba de nascer. E Jesus não cessará ao longo de toda a sua pregação de pedir aos homens que saibam acolher-se e amarem-se uns aos outros.

O natal aponta-nos e revela-nos a plenitude do humano

Poderíamos resumir a revelação cristã da incarnação dizendo que Deus se fez homem para pedir ao homem que seja mais humano, e revelar-lhe o caminho da sua humanização. Porque o homem é mais humano, as nossas sociedades são mais humanas, quando sabemos dar lugar àquele que é mais frágil, mais fraco, mais doente, mais pobre e sobretudo à criança a nascer. Quando o saudável ajuda o doente, quando o homem livre visita o prisioneiro, quando aquele que tem, dá ao que não tem, o ser humano purifica-se como humano. Praticando a caridade, como Cristo nos convidou a fazer e deu o exemplo, cada homem e cada mulher se humaniza.

A nossa humanização é o caminho e a possibilidade da nossa divinização.

Quanto mais humanos, mais divinos, pois Deus assumiu a nossa humanidade. Ele foi o homem que mais amou e deu à humanidade a sua plenitude. N’Ele a humanidade atingiu o seu máximo potencial. N’Ele o humano e o divino coabitam. Nesta terra tem havido muitas pessoas que, no seguimento de Jesus e dos seus ensinamentos se tornaram tão humanas que nós vimos nelas o rosto de Deus.

Aquele que dá com amor recebe um coração de carne e forma-se nele o homem novo. É o coração de carne capaz de amar que faz dele um homem verdadeiro.

S. Paulo VI, quando veio a Fátima participar como peregrino no cinquentenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima, proferiu um célebre discurso que veio à minha mente ao pensar no que nos diz o Menino no presépio: «Homens, sede homens. Homens, sede bons, sede cordatos, abri-vos à consideração do bem total do mundo. Homens, sede magnânimos. Homens, procurai ver o vosso prestígio e o vosso interesse não como contrários ao prestígio e ao interesse dos outros, mas como solidários com eles. Homens, não penseis em projetos de destruição e de morte, de revolução e violência; pensai em projetos de conforto comum e de colaboração solidária (…) e recomeçai a aproximar-vos uns dos outros com intenções de construir um mundo novo; sim, um mundo de homens verdadeiros, o qual é impossível de conseguir se não tem o sol de Deus no seu horizonte.» Como estas palavras são sempre tão atuais!!!
Ser discípulo de Jesus, ser cristão, é aprender a ser mais humano com Aquele a quem Pilatos apresentou à multidão dizendo: «Ecce Homo; Eis o homem.»

Metendo no centro da nossa celebração natalícia o mais fraco, aquele que depende de nós para viver, e pensamos hoje no povo ucraniano, nós manifestamos a direção para a qual devemos caminhar para tornar a nossa vida mais humana. Quando o homem adulto respeita aquele que não se pode exprimir e defender, a criança, o abusado, o violentado e injustiçado manifesta a dignidade da pessoa. Assumindo a nossa carne, Deus convida-nos a tornar-nos também verdadeiros homens participando no seu amor que cuida dos mais frágeis.

Longe das fábulas mitológicas, um dia no tempo, o Verbo de Deus fez-se carne da nossa carne e veio tornar-se o homem pleno para nos indicar o caminho do humano na sua plenitude. Agora compete-nos a nós, ajudados por Ele a contruir-nos como homens verdadeiros construindo um mundo novo. Quando todos formos mais humanos cessarão as guerras, as divisões, os egoísmos, os ódios, as injustiças. Será um mundo de fraternidade e de paz. Foi esse mundo novo que o Menino veio dar início. Por isso os anjos cantaram: «Glória Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados.»

Que a nossa humanidade se revele na compaixão e na caridade para com o povo da Ucrânia que sofre de frio e da falta de tudo. Hoje quando formos venerar o Menino no final da missa, demos uma ajuda a esse povo com um donativo generoso, «pois tudo aquilo que fizerdes ao mais pequenino dos meus é a Mim que o fazeis».

Feliz natal.

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