Visão

Nascemos do encontro pessoal com Cristo, crescemos na comunhão com Deus e com os irmãos, formamos discípulos que evangelizam com ousadia e servem com amor.

O que é uma visão?

Visão é uma imagem do que Cristo nos chama a tornar-nos, como comunidade, para prosseguir a sua missão de salvação, no nosso ambiente concreto. Ela apresenta um futuro duradouro que suscita paixão e força no coração dos fieis. Como a fé, dá a ver coisas antes que elas se realizem (Hebreus 11,1) Ela responde à pergunta: «Para onde vamos?» Onde queremos estar daqui a 10 anos, 15anos?
Na construção de uma visão pastoral entra o sentir do povo. «Eu vi a miséria do meu povo.» Entra o que o Espírito diz à igreja em cada tempo. (O magistério do papa, dos bispos.) entra as nossas santas insatisfações de discípulos-missionários que já temos partilhado.

Características e vantagens de ter uma visão:

É clara e fácil de comunicar, dá um horizonte comum e uma direção a médio ou longo prazo. Preserva da confusão: Por falta de visão o povo entra no caos” Prov 29,18. Quando a visão é partilhada, torna-se fonte de unidade. Dá sentido e coerência às nossas atividades. Ela é espiritual e estimula a fé, a esperança e a caridade.
É audaciosa e entusiasmante, motiva e dinamiza toda a comunidade. «I have a dream» Suscita a criatividade e congrega energias. Porque é ampla implica cada um na missão, segundos os talentos e carismas. Incarnada, leva em conta o meio ambiente comunitário e nos dá segurança.
É realista e serve de critério para discernir as melhores oportunidades. Permite hierarquizar as prioridades e avaliar os nossos avanços.
Andamos há muito tempo a olhar a paróquia, aspetos positivos e limites, o ambiente externo com as suas oportunidades e também com as suas dificuldades. E foi-se gerando em nós, Efap , algum pensamento comum que acabou por ficar com a seguinte redação:
Nascemos do encontro pessoal com Cristo, crescemos na comunhão com Deus e com os irmãos, formamo-nos como discípulos que evangelizam com ousadia e servem com amor.
Poderíamos dizer desta forma: A paróquia de S. José aspira a ser uma comunidade onde todos fizeram a experiência feliz de um novo nascimento em Cristo, pela açao sentida do Espírito Santo, aspira a ser uma comunidade onde todos se esforçam por crescer continuamente na comunhão com Deus e numa comunhão fraterna cada vez mais sentida e vivida. Aspiramos ainda a ser assíduos à formação contínua como discípulos de Jesus e a formar outros para que não fiquemos numa fé básica mas enraizada no Senhor e aspiramos a ser uma comunidade ministerial em que cada um se compromete num serviço segundo os seus carismas, dons e competências. Por último ansiamos ser uma comunidade missionária que se evangeliza a si mesma e está em saída ao encontro dos seus irmãos- vizinhos e dos irmãos que estão longe para lhes levar o pão da Palavra que salva e o pão que alimenta o corpo.
Se reparardes bem servimo-nos de uma analogia para dizermos a visão:
A analogia é a do processo da vida biológica: Nascemos, crescemos e reproduzimo-nos dando fruto. Não nos faltam na bíblia passagens abundantes deste processo comum a todos os seres vivos e também à vida espiritual.
1º Nascemos como crianças frágeis e muito dependentes dos pais. Ainda não suportamos comida forte mas uma comida doseada. Estamos muito dependentes da envolvência, das boas relações de afeto e de amor dos outros. Paulo tem presente esta tenra idade quando se dirige aos novos cristãos renascidos pelo batismo mas que ainda estão no início da caminhada“1*Quanto a mim, irmãos, não pude falar-vos como a simples homens espirituais, mas como a homens carnais, como a criancinhas em Cristo. 2Foi leite que vos dei a beber e não alimento sólido, que ainda não podíeis suportar. Nem mesmo agora podeis, visto que sois ainda carnais.” 1Cor, 3,1-2)
Esta etapa é fundante da nossa fé. Sem ela andaremos sempre a construir sobre a areia, sobre nada. E no início de tudo está o encontro pessoal com Deus, a experiência do Espírito santo que nos transforma. « No início do ser cristão não está uma grande ideia ou um pensamento ético, mas um acontecimento, um encontro pessoal com Cristo, que dá à vida um novo horizonte e com este um novo rumo». Muitos cristãos, batizados, de todas as paróquias nunca fizeram este encontro e desejam-no. Receberam uma fé como herança sociológica, adotaram-na e muitos são cristãos com muito boa vontade e serão salvos por isso, mas eles próprios gostavam de fazer uma experiência mais íntima e profunda que muda a vida.
2º Crescemos e tornamo-nos jovens autónomos. Deixamos de estar tão centrados em nós e abrimo-nos ao amor, capazes de entrar em relações de amor que nos fazem sair de nós,. “1É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. 22É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito.” (Ef 2,21-22) crescemos na comunhão com Deus e com os irmãos
Terceira etapa
3º Chega a altura da maturidade adulta :
“ A glória de meu pai é que deis muito fruto e assim vos torneis meus discípulos ( Jo 15) “Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; 17que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor. Ef 3,16-1
“. (…) a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus.”
Esta etapa, no ser humano, é a do compromisso do casamento e do ter filhos, ou do compromisso numa vocação consagrada: é a altura da reprodução para que a vida não seja estéril. Na vida cristã é também a de permanecer em Deus, comprometer-se com Ele no serviço e na vocação já escolhida e ir criando raízes cada vez mais fortes no amor de Deus.
Não chega semear a semente e deixá-la ao abandono. É preciso semear, (primeiro anúncio), acompanhar o crescimento, formar, educar na fé para que a planta dê fruto. Jesus disse um dia «Contemplai como crescem os lírios do campo…quer dizer: observai o processo do crescimento… e Jesus em S. Marcos acrescenta: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita».
E S. gregório de Nissa comenta este texto desta forma:
O nosso Criador não nos destinou à vida embrionária; o objectivo da natureza não é a vida dos recém-nascidos. Ela também não visa as épocas sucessivas que se renovam com o tempo pelo processo de crescimento que lhes altera a forma, nem a desagregação do corpo que sobrevém à morte. Todos esses estados são etapas no caminho por onde avançamos. O propósito e o fim da caminhada através destas etapas é a semelhança com o Divino […]; o fim esperado da vida é a beatitude. Mas hoje, tudo o que diz respeito ao corpo – a morte, a velhice, a juventude, a infância e a formação do embrião – todos esses estados, como outras tantas plantas, hastes e espigas, formam um caminho, uma sucessão e um potencial que permite a maturidade esperada.
São Gregório de Nissa (c. 335-395)

O fim de toda a vida cristã é a «semelhança com o divino» outra forma de dizer, a santidade. E nós devemos aspirar a que a paróquia seja uma comunidade de santos a caminho. S. João Paulo II escreveu na Novo Millenium ineunte: “Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade.”(…) Mas, o dom gera, por sua vez, um dever, que há-de moldar a existência cristã inteira: « Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação » (1 Tes 4,3). É um compromisso que diz respeito não apenas a alguns, mas « os cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade ».[16] (…)Perguntar a um catecúmeno: « Queres receber o Baptismo? » significa ao mesmo tempo pedir-lhe: « Queres fazer-te santo? » Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: «Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste »(…) É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta « medida alta » da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direcção. (nº 30-31)
Hoje só vos deixo o processo, a visão de conjunto, para que tenhamos uma bússola e saibamos para onde vamos. O que é importante é remarmos todos na mesma direção. De tal forma que aquela que barre a igreja ou faz os arranjos florais , se lhe perguntarem porque faz isso ela em vez de responder: faça uns arranjos de flores possa dizer: Estou a formar santos para Deus ou sou uma cadeia no processo que começa no primeiro anúncio e que conduz à plenitude da vida cristã.
O que se pretende é uma mudança de paradigma pastoral: Passar de uma pastoral baseada em eventos pontuais e desconexos uns dos outros, a uma visão pastoral que é um processo onde todos se integram, de modo orgânico, no mesmo fim e objetivo.

Alguns de vós já terão visitado a belíssima e vetusta catedral de Chartres em França, inigualável nos seus belos vitrais. Há um belo conto ligado à construção desta catedral que pode ser interessante contá-lo aqui para explicar o que quero dizer:

A história é mais ou menos assim:
Conta-se que um certo filósofo foi um dia visitar a cidade de Chartres. Ao chegar foi observando a azáfama, o vai e vem constante de pessoas atarefadas, o fervilhar de vida e de trabalho da cidade. A certa altura o filósofo deparou-se com um homem que estava a partir pedra e aparentava um enorme cansaço. Treinado, como bom filósofo que era, a fazer perguntas, dirigiu-se ao homem e perguntou-lhe o que é que ele estava a fazer.
O homem que partia pedra, rabugento, cansado, completamente transpirado reponde:
– “A partir pedra! Não vê? É um trabalho difícil, nunca consegui um trabalho a sério, faço o que ninguém quer fazer, estou cansado, cheio de sede… deixe-me em paz”
Silencioso, o filósofo continua a sua caminhada e encontra outro homem que partia pedra e fez-lhe a mesma pergunta:
– “O que estais, meu bom senhor, a fazer?”
– “Estou a partir pedra! É a partir pedra que ganho a vida. Não tenho outro ofício, este é muito duro e cansativo, mas é necessário trabalhar para garantir o sustento da minha família… Olhe, cá me vou arranjando.”
O filósofo continua a andar e encontra um terceiro pedreiro e fez-lhe a mesma pergunta:
– “O que estais, meu bom senhor, a fazer?”
E o homem, erguendo oseu olhar iluminado e feliz respondeu:
– “Eu, meu nobre senhor, estou a construir uma catedral!”

Estavam todos a fazer o mesmo trabalho…o que era diferente? A motivação. O terceiro estava polarizado por uma visão de futuro, a visão de uma bela catedral para adorar a Deus. Ele sabia-se uma parte desse processo orgânico e conexo com outros para que a Visão se tornasse realidade e isso motivava-o. Os outros não tinham visão. O que faziam era um trabalho pontual , desconexo dos outros, sem ver a importância que podia ter no conjunto. Por isso era tão fatigante e cansativo.
A Equipa de animação pastoral e o Conselho pastoral estão ao serviço desta visão e o seu trabalho deve ser constantemente tê-la presente para que todos se sintam envolvidos na construção do novo Templo espiritual ao qual Paulo se refere de uma forma tão bela e tão orgânica Lembro de novo o que já citei no princípio: 1É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. 22É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito.”
A visão é o templo santo…para lá chegar todos temos de nos integrar nessa construção, cada um a seu modo, mas todos a participar para o mesmo, como pedras vivas.
Ora esta visão muda a forma como às vezes nos vemos. Todos sabemos, por experiência, que nas paróquias existe muitas vezes concorrência entre os grupos, porque o meu é que é bom…e não raro, alguns grupos vivem de costas voltadas uns para os outros ou completamente indiferentes. Quando nos deixarmos todos polarizar pela mesma visão que todos queremos construir pode vir a ser diferente…eu percebo então que, cada um, é um elo necessário da construção que se eles faltam, a construção vai ficar desequilibrada.
Termino hoje com avisão geral do processo.
Agora poderíamos começar a explicar cada ponto da visão e onde cada grupo se situa no processo orgânico da construção da visão.
Onde se situa o Alpha? E a catequese de infância? E os coros? E a lectio Divina? E a adoração? E as células paroquias de evangelização? E O conselho económico? E a equipa de comunicação? E os Vicentinos? E o escutismo? E os jovens?